Sejam bem-vindos!

Amigos,
Duas vezes por mês deixarei um pequeno artigo sobre coisas que a tradição, a sabedoria popular, a imprensa, as frases prontas e os clichês nos fizeram acreditar!
Os textos anteriores ficarão em três pastas: "Vamos aos Fatos", "Deixe o Cara" e "Atualidades". Sugiro ler os artigos a partir do primeiro; e à noite tem mais clima!
A intenção é lançar o tema para discussão. E a discussão pode ficar bastante interessante. A vantagem é que daí, pessoalmente não precisaremos falar nada sério. Espero que gostem, comentem sobre o tema, curtam, acrescentem, discordem, expliquem melhor, coloquem reflexões, frases... e indiquem aos amigos para que façamos um grupo aberto pensante.
PENSAR MAIS, ACREDITAR MENOS!
Divirtam-se, Carlos Nigro

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

O Indivíduo




        
Ideia Central
Não procure grupos ou categorias para se enquadrar.
Você é único. Descubra suas melhores qualidades e desenvolva o seu melhor.
As crianças, os jovens serão cada vez mais críticos - condição necessária ao desenvolvimento e construção de sua personalidade - se viverem numa sociedade democrática e livre que valorize e defenda os direitos humanos.
Numa Democracia aprendemos a considerar outras opiniões, fazer acordos, negociar, respeitar contratos e leis, admitir e respeitar as diferenças individuais, conviver com a pluralidade de opiniões, crenças, culturas. Fornece uma forma, um método de aprendizagem e de formação.
Num raciocínio o indivíduo deve levar em consideração o que admitiu ou disse. Há discussão, troca de ideias, controle mútuo dos argumentos e das provas. Os conteúdos produzidos desta forma serão respeitados. É o mais alto nível de socialização. Promove o desenvolvimento. É um método para se chegar a verdades. Uma sociedade ética. A autoridade soberana pode ser contestada pela razão.
O indivíduo vive, assim, numa sociedade democrática, mas o indivíduo se relaciona com as pessoas - não existe a relação do individuo com a sociedade. A sociedade desejada não é um ser; é apenas o grupo de indivíduos de um lugar.
A sociedade, o povo, a massa, humanizada (“o povo sofre”, “a massa almeja”, “a sociedade é racista”) são categorizações sempre na boca e na cabeça dos autoritários, populistas, desagregadores e manipuladores. Servem para suprimir a individualidade e levar o indivíduo a acreditar que o sentido está no grupo, não dentro de si.
Tais características estão sempre presentes e exaustivamente “ensinadas” nos regimes totalitários. A pessoa única, singular, crítica, pensante, independente, é  chamada de egoísta, desprezível, que não vale literalmente nada e, por isso pode ser assassinada “pelo bem da sociedade”. Só terá valor se identificando e pertencendo a uma categoria (do sindicato, dos imigrantes, dos negros, dos índios, das mulheres, dos gays, dos pobres, dos nordestinos, dos aposentados, dos ricos, dos pobres, dos bons - esquerda, dos maus - direita ...) onde aprende que existe um inimigo (os outros grupos) causador de todas as suas desgraças. No grupo, a pessoa se identifica, encontra as respostas, um sentido. Está preso, mas seguro; dependente do grupo e do inimigo imaginário. Quanto menor a personalidade mais imprecisa, inconsciente, indistinguível e diluída no grupo ela será.
Um povo de sombras, não falam, apenas emitem um burburinho simples, monótono, frágil (e, por isso avesso à contestações), confuso e sinistro. Eles não têm individualidade, não são ninguém; são zumbis.
Mesmo nas democracias, a pressão da maioria dos indivíduos é por uma moral estática, pelo padrão, pela tradição, pelos costumes, convenções, pela ideia pronta e fácil.
O individuo deformado pelas “informações” é incapaz de ouvir a sua voz interior.(1)
A autenticidade parece improvável, parece loucura (para os outros e para si mesmo). O desejo de ser como os outros e a pressão social contra um comportamento desviado atrapalham a busca da autenticidade, de conhecer a si mesmo.
É difícil de aceitar enquanto resistimos a ela. Mas viver de modo autêntico acaba com a enlouquecida fuga do próprio ser.
A inautenticidade alivia a ansiedade, mas não a erradica. É um espeto no cérebro.
A culpa mais relevante e mais sofrida surge não por desobedecer a uma norma, mas por termos negligenciado o próprio desejo, por desistir de agir como se queria. Exemplos de escolhas cruciais da vida: uma mudança de carreira à qual você renunciou porque teria desapontado ou preocupado seus próximos; uma paixão amorosa que você calou porque teria encontrado a desaprovação dos mesmos...
Podemos nos arrepender de nossas transgressões, mas lamentamos, mais amargamente, as ocasiões covardemente perdidas.
Após algumas décadas de vida nasce um desejo de ser uno e indiviso.
É na inspiração individual, no acesso às demais culturas de todas as épocas e lugares (a literatura clássica universal), que a moral coloca-se em movimento e evolui, é o que permite ao homem elevar-se acima de seu tempo e da organização social em que vive.
Buscamos nos tornar indivíduos permanentemente, encontrando um modo autêntico de existência pessoal. A realização total do nosso ser é algo inatingível, mas o que queremos ser indica o caminho. Você escolhe seu caminho! O caminho é o que importa.
Ele acredita. Ele é fiel a si mesmo. É um risco impopular.
Somente um louco, um demônio ou um deus para preferir o caminho mais difícil e se opor à humanidade inteira com seus costumes e tradições. Isto é atemorizante e solitário. “Quem não puder perder a sua vida também não a ganhará.”
A sofisticação dos recursos intelectuais é utilizável na elaboração de personalidades ricas e originais. Mas é no relacionamento social, pelo trabalho, que nos relacionamos com os outros, criamos e transformamos a cultura e damos sentido à realidade. Pelo trabalho definimos um estilo de vida. Assumimos responsabilidades.
Assim, o individuo se singulariza, se torna único.
É pela expulsão do que há de alheio dentro de si que se fabrica continuamente o Eu. O individuo se separa do comportamento e do pensamento grupal. Nossa consciência individual é construída sobre a coletiva. Então se oferece em espetáculo. Ocorre a iluminação.
O Eu não existe sem o outro. O outro está em mim por suas ideias, suas ações, sua maneira de falar, seus gestos, numa empatia espontânea. O inverso também ocorre, a antipatia. A intuição reconhece tais características rapidamente nas pessoas que acabamos de conhecer favorecendo a empatia e a antipatia.
“O inferno são os outros” porque é nos outros que me reconheço pelo que sou e pelo que não sou; o eu é apenas uma dedução, garantida pelo outro através de nossas interações. E é onde a minha liberdade esbarra numa trama de liberdades.
O indivíduo, então, pode desfrutar da solidão; da aterrorizante solidão da adolescência. Está pronto para a morte porque não teme a morte.
Todos esses hábitos, esquemas, mecanismos, categorizações; a crença na permanência do Eu e das coisas, destinam-se a tornar a vida possível, para que possamos nos adaptar melhor e mais rapidamente ao mundo em que temos que viver.
Mas é afastando-se deles que a pessoa se encontra e desenvolve a sua humanidade.
“É possível desenvolver nossa personalidade?”
A seguir...
Notas:
1) A certeza de ter um tumor no corpo (frequente queixa nos consultórios médicos) é a manifestação do medo da atividade interior que o perturba e toma a forma de um tumor que lhe come por dentro.




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6 comentários:

  1. Somos seres em constante evolução e o que aprendemos não perdemos. Somos colecionadores de um gigantesco acervo de culturas. Isso é belíssimo!


    "Somente um louco, o demônio ou o divino para preferir o caminho mais difícil e se opor à humanidade inteira com seus costumes e tradições. Isto é atemorizante e solitário. Quem não puder perder a sua vida também não a ganhará."
    Comento: Esses tipos de loucos é BEM comum!
    Julgar? NÃO! Amparar, se pudermos ou respeitar, pois a loucura da inconsciência também é um estágio evolutivo!
    Estamos caminhando rumo à perfeição. Quando?
    Depende de cada um!

    Parabéns pelos artigos Carlos!

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  2. Me provem que estamos vivos por algum motivo. Sim, é claro, temos a obrigação genética de realizarmos a continuação da espécie, nos reproduzindo. É pobre afirmar isso? Sim, é pobre, isto se pensarmos que um " SER " tão complexo como somos, com capacidades infinitas de realizações, estaria neste pequeno planeta azul apenas para esta finalidade. Que coisa mais fantástica! Enquanto todos os gêneros animais e até os vegetais lutam desesperadamente para cumprir sua finalidade genética de preservação da espécie, nós os milagrosamente, fantásticamente, inquestionavelmente e presunçosamente humanos achamos que em nossa magnitude egoica somos diferentes de tudo. " Até tu Darwin "? Não vamos aqui falar dos estóicos, dos Platônicos, dos Aristotélicos, dos Cristãos, dos Marxistas, dos existencialistas, enfim, dos filosofistas. A filosofia não passa da " verdade " observacionista dos olhos de cada um. Somos todos grandes filósofos. Estamos sempre tentando explicar o explicável: a vida nua e crua. É bom nos organizarmos, pois sem organização fica difícil a sobrevivência. Mas não somos formigas e muito menos abelhas. Somos seres individuais. Não há uma regra única para todos. Há formas éticas de organização. Até para os perversos. O Eu existe. Talvez seja a única e maravilhosa coisa que realmente exista e valha à pena. Claudemir Borghi.

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  3. "Querido Carlos.. Estamos em contínua transformação e seus textos me fazem refletir.. Deixando de lado comportamentos condicionados, mecânicos e trazendo cada vez mais a consciência nos nossos atos e situações presenciadas no dia-a-dia. Grande beijo, Kênia."

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  4. Victor Frankl descrevia o fanático por dois traços essenciais: a absorção da individualidade na ideologia coletiva e o desprezo pela individualidade alheia. “Individualidade” é a combinação singular de fatores que faz de cada ser humano um exemplar único e insubstituível. Há individualidades mais e menos diferenciadas. Quanto mais diferenciadas, menos podem ser reduzidas a tipicidades gerais e mais requerem a intuição compreensiva da sua fórmula pessoal. Isto se observa, mais nitidamente, na obra dos grandes artistas e filósofos, para não falar dos santos e profetas. É só de maneira parcial e deficiente que a personalidade criadora se enquadra em categorias gerais como “estilo de época”, “ideologia de classe” etc., que os cientistas sociais inventaram para falar de médias humanas indistintas, mas que o estudioso medíocre insiste em aplicar como camisas de força a tudo o que vá além da média.
    Jamais deslocado neste mundo, ele não aspira a nenhum transmundo senão sob a forma de um futuro cronológico a ser realizado neste mesmo plano de existência. Nada o arraiga mais profundamente na temporalidade, no histórico, do que sua rejeição do presente, contra o qual brada: “Um outro mundo é possível”, querendo dizer, precisamente, que se trata deste mesmo mundo, tão logo subjugado pelo seu partido.

    O segundo traço da personalidade fanática, assinalado por Victor Frankl, é o desprezo pela individualidade alheia. A estrutura da individualidade manifesta-se antes de tudo como hierarquia de metas vitais, diversa em cada ser humano. O que é essencial para um é secundário para outro. Mas todas as metas refletem, de algum modo, algum valor universal, que pode ser reconhecido e apreciado por quem não as compartilhe. Não quero necessariamente para mim o que você quer para você, mas reconheço que querê-lo é bom para você.
    O homem que deseja a riqueza aprecia o que busca o conhecimento, este respeita o que busca a perfeição artística, a felicidade no casamento, o sucesso político etc. Um mesmo homem pode, de modo simultâneo ou sucessivo, perseguir objetivos diversos, cada um deles traduzindo, na situação do momento, os mesmos valores de base.

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  5. Gustave Le Bon fez sobre a psicologia das massas no final do século 19. O estudo exerceu forte influência em Freud. Eis um resumo das conclusões:

    Uma massa é como um selvagem; não está preparada para admitir que algo possa ficar entre seu desejo e a realização deste desejo. Ela forma um único ser e fica sujeita à lei de unidade mental das massas. No caso de tudo pertencer ao campo dos sentimentos, o mais eminente dos homens dificilmente supera o padrão dos indivíduos mais ordinários. Eles não podem nunca realizar atos que demandem elevado grau de inteligência. Em massas, é a estupidez, não a inteligência, que é acumulada. O sentimento de responsabilidade que sempre controla os indivíduos desaparece completamente. Todo sentimento e ato são contagiosos. O homem desce diversos degraus na escada da civilização. Isoladamente, ele pode ser um indivíduo; na massa, ele é um bárbaro, isto é, uma criatura agindo por instinto.

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  6. http://rodrigoconstantino.com/artigos/coletivismo-o-odio-ao-individuo/

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